sexta-feira, 7 de junho de 2013

As Farpas – Maio de 1871 (4)

Maio de 1871 [1]
       Leitor de bom senso – que abres curiosamente a primeira página deste livrinho, sabe, leitor – celibatário ou casado, proprietário ou produtor, conservador ou revolucionário, velho patuleia [2] ou legitimista [3] hostil – que foi para ti que ele foi escrito – se tens bom senso! E a ideia de te dar assim todos os meses, enquanto quiseres, cem páginas irónicas, alegres, mordentes, justas, nasceu no dia em que pudemos descobrir através da penumbra confusa dos factos, alguns contornos do perfil do nosso tempo.



[1] Ernesto Guerra da Cal, na sua obra Lengua y Estilo de Eça de Queiroz […], informa-nos de que este primeiro fascículo, com data de Maio, só foi posto à venda em Junho. Com efeito, no Diário de Notícias de 18 de Junho de 1871, uma local notícia: «Apareceram ontem As Farpas». A 27 do mesmo mês, somos avisados de que já se tinham esgotado e logo a 29 que estava «na imprensa o 2.º número das Farpas».
[2] “Patuleia” foi o termo usado para designar os partidários do setembrismo, opositores à política de Costa Cabral e que lutaram, de armas na mão (1846-1847), contra as tropas fiéis a D. Maria II. Nem todos estão de acordo quanto à sua origem e ao seu significado, sendo para alguns uma corruptela da designação pejorativa “patas ao léu», inspirada na forma va-nus-pieds que, em França, em 1639, fora dada aos revoltosos da Normandia.
[3] Legitimista era o partidário da «legítima» continuação de D. Miguel no trono. Os legitimistas defendiam o absolutismo régio, a organização do Estado baseada nas três ordens (nobreza, burguesia e povo) e um catolicismo ortodoxo. 

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